Palavras que carinhosamente se reproduzem na alma e
depois repousam, sossegadas na minha mente.
Sobre etéreas pétalas de flores adormecem perfumadas ...
amadurecem e vestem-se de cores divertidas.
E pela minha mão nascem... só para ti.

sábado, 23 de janeiro de 2010

"Almas perfumadas" de Carlos Drummond de Andrade

Obrigada à Estrelinha por me ter apresentado este lindíssimo poema. Com a tua permissão, Amiga, quero dedicá-lo agora a um outro amigo, o Carlos: sempre disponível para o que precisares, Avô Amigo. Mil beijos aos dois.

Tem gente que tem cheiro

de passarinho quando canta,
de sol quando acorda,
de flor quando ri.

Ao lado delas,
a gente se sente no balanço de uma rede
que dança gostoso numa tarde grande,
sem relógio e sem agenda.

Ao lado delas,
a gente se sente comendo pipoca na praça,
lambuzando o queixo de sorvete,
melando os dedos com algodão doce
da cor mais doce que tem para escolher.
O tempo é outro.
E a vida fica com a cara que ela tem de verdade,
mas que a gente desaprende de ver.

Tem gente que tem cheiro
de colo de Deus,
de banho de mar
quando a água é quente e o céu é azul.

Ao lado delas,
a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis.

Ao lado delas,
a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo,
sonhando a maior tolice do mundo
com o gozo de quem não liga para isso.

Ao lado delas,
pode ser Abril,
mas parece manhã de Natal,
do tempo em que a gente acordava
e encontrava o presente do Menino Jesus.

Tem gente que tem cheiro
das estrelas que Deus acendeu no céu
e daquelas que conseguimos acender na Terra.

Ao lado delas,
a gente não acha que o amor é possível,
a gente tem certeza.

Ao lado delas,
a gente se sente visitando um lugar feito de alegria,
recebendo um buquê de carinhos,
abraçando um filhote de urso panda,
tocando com os olhos os olhos da paz.

Ao lado delas,
saboreamos a delícia do toque suave
que sua presença sopra no nosso coração.

Tem gente que tem cheiro
de cafuné sem pressa,
do brinquedo que a gente não largava,
do acalanto que o silêncio canta,
de passeio no jardim.

Ao lado delas,
a gente percebe que a sensualidade
é um perfume que vem de dentro
e que a atracção que realmente nos move
não passa só pelo corpo.
Corre em outras veias.
Pulsa em outro lugar.

Ao lado delas,
a gente lembra que no instante em que rimos
Deus está connosco, juntinho, ao nosso lado.
E a gente ri grande que nem menino arteiro.

Tem gente como você,
que nem percebe como tem a alma perfumada
e que esse perfume é dom de Deus.


2 comentários:

Anónimo disse...

Oi amiga!!!!

Claro que podes postar!!!

Carlos Drummond de Andrade é um poeta magnífico, com certeza um dos melhores poetas do mundo!!!

"Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco."
Drummond

Anónimo disse...

Gostei muito do seu blogue , muito intenso, tal como eu gosto :)

Se qquiser dê uma olhadela pelo meu :)

Beijos*