Palavras que carinhosamente se reproduzem na alma e
depois repousam, sossegadas na minha mente.
Sobre etéreas pétalas de flores adormecem perfumadas ...
amadurecem e vestem-se de cores divertidas.
E pela minha mão nascem... só para ti.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Desembrulhando o Natal




É Natal!
Nos últimos meses os portugueses têm andado distraídos e preocupados com a aprovação do orçamento de Estado, com a possível incursão do FMI no nosso país e com o impacto das notícias mediáticas relacionadas com o Wikileaks. E… de repente, é Natal!
Entretanto, os mercados parecem terem acalmado, o povo aperta o cinto e antecipa os cortes nos salários e os aumentos dos preços. As Câmaras poupam nas tradicionais iluminações da época por causa da crise, e as cidades ficam mais escuras e mais tristes. Para compensar organizam-se desfiles com milhares de pais natais. Mas, onde está o Menino?
Sim, o Deus Menino. O sentido verdadeiro do Natal não consiste na celebração do nascimento de Jesus? Ou será que andamos tão ocupados com a festa, que nos esquecemos do propósito da festa. Será que andamos tão ocupados com o aniversário, que esquecemos o aniversariante?
Verifico que, cada vez mais, a figura central desta quadra é o Pai Natal. Sinto-me traído. Esta cultura, chamada cristã, sente-se mais confortável com o Pai Natal do que com o Filho de Deus. A verdade é que, tal como os presentes que se oferecem nesta ocasião, o Natal anda muito embrulhado. Embrulhado em tradições, em lendas, em práticas pagãs, em fantasias, e em comércio.
Precisamos de desembrulhar o Natal, desatar os nós, cortar as fitas e voltar às origens. Precisamos de fazer uma pausa durante alguns dias, pôr de lado a internet e as novas tecnologias, voltar à simplicidade dos factos narrados na Bíblia e voltar a ler os velhos textos dos profetas do Antigo Testamento, que anunciavam o nascimento do Menino. Precisamos de entrar nas páginas do Novo Testamento e deliciar-nos com as profecias e o seu cumprimento. Precisamos de conversar com as personagens, que fizeram desta a história mais maravilhosa, que alguma vez se contou. Precisamos de nos encontrar com Maria e com José e, com este casal, aprender a lidar com a suspeita, com a confiança e com o amor. Precisamos de acordar a meio da noite, abrir a janela, olhar o céu, e entoar os cânticos que os anjos cantaram: Paz na terra, boa vontade para com os homens!
Precisamos de vestir a pele dos pastores e com alegria hilariante partir a correr, pelas montanhas abaixo, pulando cercas à procura do Menino. Precisamos de seguir o exemplo dos sábios, que vieram do oriente e seguir a estrela até Belém, para oferecer a Jesus: ouro, incenso e mirra.
Ah, precisamos também de olhar, mas de longe, os palácios dos Herodes do nosso tempo, onde se maquinam os planos, onde se inventam as crises, e onde se conspira a morte do Menino. E já agora, precisamos de avisar os meninos do mundo, para que fujam das catedrais do consumo, dos programas enlatados, dos brinquedos electrónicos e dos encontros marcados pela internet, com desconhecidos. À semelhança do Diógenes, da Grécia Antiga, que ao meio dia andava pela rua com uma lanterna acesa à procura de um homem justo, apetece-me também descer a avenida e perguntar às hordas de desempregados e de vagabundos: Se é Natal, digam-me, por favor: Onde é que está Jesus?
Ludgero Coelho
Natal de 2010