Palavras que carinhosamente se reproduzem na alma e
depois repousam, sossegadas na minha mente.
Sobre etéreas pétalas de flores adormecem perfumadas ...
amadurecem e vestem-se de cores divertidas.
E pela minha mão nascem... só para ti.

terça-feira, 4 de março de 2008

Faz hoje dois anos que tive alta do IPO


E há um ano atrás, no primeiro aniversário da minha alta, tive uma conversa com a minha "irmã" Eduarda. Registei-a assim no meu diário:


"Falei com a minha amiga Duda hoje de manhã no messenger. Ela anda muito cansada. Trabalha muito.


Como eu a entendo. Voltar à rotina antiga, pré-leucemia, faz-nos sentir que aquilo por que passámos não teve nenhum objectivo. Não pode ser este o seguimento.


O nosso mundo virou-se do avesso. Conseguimos experimentar todos os sentimentos na sua forma mais original: sem fingimentos, sem máscaras, sem cerimónias desnecessárias. O choro era choro de mágoa pura, de dor profunda, de desconforto imenso, de revolta incontida. Ou era choro de alegria. Aquela alegria que crescia de uma semente mínima, uma pequena notícia, do tamanho microscópico de algumas plaquetas ou neutrófilos. Aquela alegria que não conseguíamos conter dentro do peito e então resvalava cara abaixo refrescando-nos a alma.


O sofrimento transporta-nos à mais pura essência do nosso ser e, por isso, aproxima-nos do nosso Criador.


Depois de tudo isto, voltar ao estatuto de cidadão comum é quase tão doloroso como fazer um mielograma. Talvez mais.


Descobrimos novas qualidades em nós. Encontramos pessoas que partilham connosco essas mesmas qualidades. É um mundo real cuja existência desconhecíamos.


Cá fora, somos agora estrangeiros. Não importa o quanto nos esforçamos para parecer "normais". Já não o somos. Nunca mais o seremos.


Temos portanto, que descobrir novos caminhos. O propósito de termos passado por tal realidade. Sim, porque eu sei que há um propósito. Todos nós o sentimos. Encontrarmo-nos com ele e abraçá-lo para sempre faz toda a diferença na efectiva plenitude da nossa felicidade.


Desiludam-se os que acham que podemos esquecer, apagar esse "episódio" da nossa vida. O tempo parou durante 8 meses para uns, mais para outros. Mas foi nesse descanso do tempo que nós mais crescemos. Como seres humanos, como filhos de Deus, como irmãos do próximo, que se tornou ainda mais próximo.


Por isso, minha querida Duda, procuremos os nossos novos objectivos. Iniciemos as nossas novas caminhadas, para que a partida daqueles que se tornaram nossos irmãos possa ser justificada e "cantada" por nós, pelo nosso viver.


Esses sim, são agora nossos heróis e serão para sepre os nossos irmãos de combate."


A minha Dadinha está de volta ao IPO. De volta à luta. Mais uma batalha que, com a ajuda de todos nós vai acabar por vencer. E se todos fizerem a sua parte e se registarem como dadores de medula, ela fará o transplante e poderá continuar a brindar-nos com o mais lindo sorriso que Deus alguma vez criou.


Se queres ajudar a Eduarda, sabe como clicando no link "Apoio à Eduarda" neste blog.
- Duda, segura nas mãos de Deus e vai à luta.