Palavras que carinhosamente se reproduzem na alma e
depois repousam, sossegadas na minha mente.
Sobre etéreas pétalas de flores adormecem perfumadas ...
amadurecem e vestem-se de cores divertidas.
E pela minha mão nascem... só para ti.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

All you need is love

Decidi escrever sobre o amor. Por isso escolhi esta letra vermelha. Vermelha de sangue. Não há amor que não tenha nascido do sangue.



Eu tenho consciência de que é deveras presunçoso da minha parte escrever sobre o tema de Pessoa ou Camões, de Florbela ou Andrade. Mas provavelmente, também eles se acharam indignos de tal aventura.



Estou mesmo a imaginar Pessoa. Cheio de conflitos internos, com vontade de sublimar por palavras os seus amores platónicos e perfeitos (por serem platónicos), mas com um imenso temor de tocar naquele assunto que tão mestralmente Camões dominara. E então sairam assim como que confissões directas: do coração à pena. Sem passarem pela razão, pelo simples facto de que se o fizesse não iria certamente conseguir insinuar-se no santuário intangível do mestre da poesia lusitana.



Ora, das duas uma: ou os nossos poetas pós-camonianos não leram camões, ou simplesmente atreveram-se. Usando as mesmas palavras, ordenando-as à sua maneira (sim, até porque em termos de ordenação sintáctica o mestre teve o seu jeito muito próprio) conseguiram exprimir aquilo que aparentemente parece ser o mesmo sentimento. Ou não será?



Bom eu apenas posso falar daquele amor que conheço, usando as palavras desta maravilhosamente rica língua lusa e, portanto, correr os mesmos riscos que todos os outros antes de mim. E quem sou eu para sequer me incluir em tal companhia.



Já aqui falei dos inconvenientes da intromissão constante do amor na nossa vida racional.

Quero falar das frustrações, dos cabelos arrancados, da vontade de morrer (ou de matar) como consequência do amor. Felizmente não posso fazê-lo. Não sei do que se trata. Só sei do que ouvi a outros (que me merecem muita consideração e tomo por isso, as suas palavras por muito verdadeiras).



Aquilo que eu posso dizer do amor é que para mim, ele é o meu combustível. Aquilo que me faz ser como sou. Provavelmente aquilo que faz com que os que me rodeiam achem que eu tenho "aquelas" características diferentes... Ou seja, sem o amor que existe permanentemente em mim, eu não seria de todo como sou.



Desengamen-se. Não estou a falar de amor romântico. Falo de amor por todos e por tudo. Não há nada que eu não possa fazer com amor e tudo o que eu possa fazer sem ele não é merecedor de ser feito.



Querem saber porque me tenho mantido feliz, mesmo quando o mundo parece desabar sobre mim (e ele já desabou algumas vezes)? Por amor. A mim própria, aos meus filhos, ao meu marido, aos meus amigos todos (mesmo àqueles que, aparentemente, parecem indignos desse amor), mas sobretudo, a Deus. Este amor não é mais do que a devolução daquele de Dele recebo diariamente. Fielmente as suas mãos me seguram e nunca me falharam. O Seu amor é imenso e não se pode medir. Ele é amor.



Só esta ideia é suficiente para me aquietar em qualquer situação. Seja perante a hipótese de uma discussão, seja depois de perder um ente querido, seja mesmo enfrentando uma leucemia atroz.



Não há segredo algum. Qualquer um dos nossos grandes poetas teve em si este amor de Deus. Só assim se explica que ainda hoje sintamos estas palavras vibrar não só nos nossos ouvidos, mas principalmente na nossa alma espremendo-a e soltando, por vezes, uma lágrima de comoção.



Este é o amor que eu conheço. Peço desculpa a quem está convencido de que o amor não existe ou é algo radicalmente diferente. Este é aquele que eu sinto e me mantém feliz.