Pedem-me com alguma insistência que escreva sobre os meus dias de tormento. Sobre os meses que passei no hospital combatendo uma leucemia grave e como consegui chegar até aqui tendo "passado pelo vale da sombra da morte, sem temer mal algum porque Deus está comigo".
Foi fácil. Foi muito fácil se comparado com o quão difícil está a ser relembrar tudo isso para pôr no "papel" para que outros possam ler. Cada palavra é um parto. Doloroso e recheado de gemidos daqueles que só Deus entende. Sinto esse dever. E como a maioria dos deveres, não é fácil de cumprir.
Lembrar as lágrimas da minha filha, ou o quase desitir de viver do meu filho; lembrar o metro e oitenta de marido que Deus me deu, completamente desorientado e desesperado, está a ser muito difícil.
Parece-me que que só agora esou a perceber a verdadeira prova que enfrentei quase sem dar por isso. Só agora entendo quão grata tenho de estar a Deus por me ter poupado destes sentimentos numa altura em que necessitava de todas as minhas energias para combater o "bichinho".
Percebo melhor do que nunca, melhor do que então, o bem que me fizeram as visitas dos amigos, os telefonemas diários, os sms's imparáveis, os livros, os postais, as cartas...
Percebo muito melhor agora o tesouro com que me presentearam, sem que eu entenda ainda por que o posso ter merecido.
está a ser muito difícil...